Fica aqui o registo dos poemas escolhido para esta quinzena para o passatempo "Fotografa um poema" no âmbito do Departamento de Línguas inserido nas comemorações da "Poesia da Rua" na Cidade do Fundão.
_____
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as
costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha
vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa, in
Poemas Escolhidos, Col. Brevíssima, Civilização
_____
Os pássaros nascem na
ponta das árvores
As árvores que eu vejo em
vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto
mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde
as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar
as árvores
Ao chegar aos pássaros as
árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal
para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as
folhas na terra
quando o outono desce
veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os
pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de
dizer ao romancista
é complicada e não se dá
bem na poesia
não foi ainda isolada da
filosofia
Eu amo as árvores
principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura
nos ramos?
De quem é a mão a inúmera
mão?
Eu passo e muda-se-me o
coração
Ruy Belo ,
in Homem de Palavra(s), 1970
Sem comentários:
Enviar um comentário